
Beleza, fortuna, admiradores e a arrogância ingênua de acreditar que o dinheiro lhe abriria todas as portas eram do que uma jovem precisava para ser feliz nos Estados Unidos no final do século 19.
Cora Cash tinha tudo isso. Mesmo assim, lhe faltava o que alguns consideravam o mais importante: um título de nobreza.
Por isso, para conseguir um casamento que lhe garantisse um status social inabalável, ela partiu para a Inglaterra aos 18 anos.
A primeira impressão do novo país não foi nada boa - a aristocracia era fria e hostil, dominada por intrigas e fofocas.
Mas a situação ficou ainda pior quando Cora se apaixonou por um homem que mal conhecia... e entrou em um jogo com regras desconhecidas e que tinha como único prêmio a própria felicidade.
Capítulo Um
Newport, Rhode Island, agosto de 1893
A hora das visitas estava quase terminando, por isso, o homem do beija-flor encontrou apenas uma e outra carruagem enquanto empurrava seu carrinho pela estreita faixa da estrada entre as mansões de Newport e o oceano Atlântico.
As senhoras de Newport haviam deixado seus cartões cedo naquela tarde, algumas para se prepararem para o último e mais importante baile da estação, outras para, no mínimo, parecerem estar fazendo o mesmo.
A algazarra e a agitação costumeiras da Bellevue Avenue desapareceram no momento em que os Quatrocentos repousavam antecipando a noite que teriam logo mais, deixando para trás somente a batida firme das ondas nas rochas lá embaixo.
A luz começava a sumir, mas o calor do dia ainda emanava das fachadas de calcário branco das enormes casas aglomeradas ao longo dos penhascos como uma coleção de bolos de noiva, cada uma rivalizando com a vizinha para ser a mais bela das refinadas construções.
Contudo, o homem do beija-flor, que usava um fraque empoeirado e um chapéu-coco cinzento muito batido em algo mais ou menos parecido com um traje de noite surrado, não parou para admirar a varanda nos Breakers, as torrinhas dos Beaulieu ou as fontes dos Rhinelander, que podiam ser vislumbradas por entre as cercasvivas e os portões dourados.
Ele continuava pela estrada, assoviando e matraqueando com seus encargos em gaiolas negras cobertas, para que escutassem um ruído familiar em sua última viagem.
Seu destino era o castelo francês logo antes da ponta, a maior e mais complicada criação em uma rua de superlativos, o Sans Souci, chalé de verão da família Cash. A bandeira da União tremulava em uma das torres, o emblema da família Cash na outra. Ele parou no portão e o zelador apontou a entrada do estábulo a uns Oitocentos metros.
Enquanto caminhava até o outro lado da propriedade, luzes alaranjadas começavam a pontilhar o crepúsculo. Lacaios caminhavam pela casa e pelo terreno, acendendo lanternas chinesas em tons de seda âmbar. Assim que virou depois do terraço, foi ofuscado por um raio de luz fraca do sol que morria refletido nas compridas janelas do salão de baile. No salão dos espelhos (visitantes que haviam estado em Versalhes declararam ser mais espetacular do que o original), a Sra. Cash, que enviara oitocentos convites para o baile daquela noite, olhava para si mesma refletida até o infinito.
Ela batia o pé, esperando com impaciência o sol desaparecer para que pudesse ver todo o efeito de sua fantasia. O Sr. Rhinehart estava por perto. O suor pingava de suas sobrancelhas, talvez mais suor do que o calor justificaria. - Quer dizer que só tenho que apertar a válvula de borracha e a coisa toda vai se iluminar? - Sim, com certeza, Sra. Cash.
A senhora só precisa agarrar essa bolota com firmeza e todas as luzes se acenderão com um efeito realmente celestial. Devo lembrar que será apenas um momento. As baterias são muito trabalhosas e só coloquei no vestido a quantidade compatível com um movimento fluente. - Quanto tempo terei, Sr. Rhinehart?
- É muito difícil dizer, talvez não mais de cinco minutos. Qualquer instante a mais e não poderei garantir a sua segurança. A sra. Cash já não escutava. Limites não tinham o menor interesse para ela. O brilho rosado do anoitecer desaparecia na escuridão. Estava na hora. Ela agarrou a bolota de borracha com a mão esquerda e ouviu um leve estalido enquanto a luz viajava pelas cento e vinte lampadazinhas em seu vestido e as cinquenta em sua meia-coroa. Eram como fogos de artifício soltos no salão de baile espelhado.
Enquanto volteava lentamente, lembrou-se dos iates na baía de Newport iluminada para a recente visita do imperador alemão.
A vista na parte de trás era tão esplêndida quanto na parte da frente, a cauda do vestido que descia de seus ombros parecia uma faixa do céu noturno.
Ela fez um aceno alegre de satisfação com a cabeça e soltou a bolota. O salão ficou às escuras até um criado aparecer para acender os candelabros.
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