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segunda-feira, 1 de junho de 2015

O VIKING NATALINO


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Minha caríssima Caroline,

Embora já tenham se passado muitos anos desde a última vez em que nos sentamos ao redor de xícaras de chocolate quente e falamos de esperanças e sonhos, e do futuro, tenho certeza de que você se lembrará do amuleto que incluo aqui.
Eu contei-lhe na época que um dia ele seria seu. É o bem mais precioso que eu possuo. Mais valioso do que qualquer soma em dinheiro. Este amuleto vem sendo passado de uma mulher para outra de nossa família por gerações. Sua magia funcionará apenas uma vez a cada cinqüenta anos. Mantenha-o perto do seu coração. Embora sua mente possa estar desordenada ou insegura, seu coração saberá a coisa certa a desejar quando chegar a hora. Confie em seu coração, querida.
Você sofreu muito, mas eu espero que não tenha perdido a fé no poder do amor e na magia, já que é, em efeito, real e verdadeiro. Acredite em mim, Caroline, eu sei.
Com todo meu amor, até que nos encontremos novamente algum dia,

Tia Helga


Caroline McNulty leu a carta em voz alta uma terceira vez, explodindo em uma nova onda de ensurdecedores soluços. Enviado da Noruega, o pacote tinha chegado a Chicago uma semana depois do natal – o segundo natal que passara sozinha por conta de seu marido bastardo canalha e traidor tê-la abandonado por um modelo mais jovem e mais magro há um ano. Na véspera do natal.
Depois de ler o documento do executor do espólio de sua tia avó, Caroline pegou o diminuto badulaque dourado viking e sua fina corrente na caixa e o estudou. Ela recordava-se de Helga contando-lhe românticas histórias de amor e contos de fadas do tipo felizes-para-sempre. Caroline costumava escutar com apaixonada atenção, engolindo lendas de encantamentos e vikings belos e fortes. Especialmente durante aqueles momentos em que sua tia avó lhe mostrava o pequeno amuleto em forma de viking e falava do folclore nórdico. A lenda familiar dizia que o amuleto mágico tinha sido dado à matriarca de um rei viking por Odin, o mais poderoso dos deuses nórdicos.
É claro que a essa altura Caroline sabia que os fascinantes contos eram simplesmente faz-de-conta.
Sua sonhadora tia avó podia ter sido suficientemente ingênua para acreditar em mitos, amuletos de amor vikings, deuses nórdicos e o resto dessas bobagens paranormais, mas Caroline não caía nessa.
Ela sabia em primeira mão que a vida era uma guerra e que contos de fadas eram para crianças.
Abrindo outro pequeno envelope do pacote, ela encontrou uma comprida mecha de cabelo trançado. Caroline recordou carinhosamente a sempre presente trança de cabelos louros grisalhos presa no alto da cabeça da Helga. Quando menina ela desejara que pudesse ter mechas louras ao invés de seu cabelo completamente negro. Embora Caroline tivesse herdado a altura, os ossos grandes, o físico encorpado do lado materno escandinavo da família, recebera o cabelo negro e os olhos azul meia-noite do lado de seu pai. O negro irlandês, como sua avó paterna o chamava. Ambas as partes compartilhavam a pele pálida, que queimava facilmente.
E Caroline nunca conseguira esquecer os gentis, pálidos olhos azuis de sua tia– avó, que pareciam encerrar os segredos e a sabedoria de eras. Ela se lembrava de Helga instruindo-a a olhar profundamente em seus olhos, dizendo que se observasse fixamente o suficiente Caroline poderia enxergar seu verdadeiro amor.
– Diga-me o que vê, querida.
Caroline apertava os olhos, focalizando toda sua concentração nos olhos de Helga:

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