segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A PROCURA DE UM PRÍNCIPE: O VERDADEIRO PRÍNCIPE



A procura de um príncipe: O Verdadeiro Príncipe
Barbara Samuel
A Winter Ballad
Coleção Julia Historico, nº 1611
Editora Nova Cultural , 1994
Assunto Místico

Irlanda, 1484
Quando Ciarann de Connaugh invocou o príncipe dos magos para curar seu coração da dor pela perda de seu noivo poucas semanas antes do casamento, ela não tinha noção da forte magia que estava desencadeando. Somente uma pessoa poderia salvá-la do perigo: Laith de Inishmoor, um bardo atraente e misterioso cuja música pura finalmente abriria o coração de Ciarann para o amor...

Capítulo I



O Chamado

Não há mesmo ajuda para mim, Mas apenas incessantes suspiros e lágrimas: Por que aquele que me roubou a esperança, Não levou também a lembrança?
Irei para o monte Sleamish, Arrancarei o espinheiro E deixarei a magia operar à vontade. Não me importo com o certo ou errado. Deixo que fique apenas na memória Do meu coração ainda encantado!
Samuel Ferguson, The Fairy Well of Lagnany

A triste névoa úmida de chuva e neve caía durante o alvorecer. Laith de Inishmoor, um bardo nômade, amaldiçoava o cami¬nho escuro e molhado à sua frente. Tinha andado pela floresta durante a noite inteira, receando parar e morrer congelado.
O velho casaco estava encharcado. A chuva havia trans¬formado o chão em lama pura, que se infiltrava nos pés dele pelas rachaduras do sapato. A única coisa que o confortava era imaginar um prato de sopa fumegante e uma caneca de sidra apimentada em uma taverna de algum vilarejo.
As folhas balançavam com o vento, deixando a impressão de estarem sussurrando a seu respeito. Laith lembrou-se de que havia uma montanha das fadas não muito distante dali.
Dizia-se que o morro arredondado era o castelo dos Sidhe. Os pelos de sua nuca levantaram-se de apreensão e ele sorriu de seu tolo pensamento.
Um novo deus havia chegado ao Eire, levando as mágicas e rituais que reinavam absolutos no país desde os primórdios dos tempos. As memórias do outro mundo e costumes antigos haviam esmaecido. Tudo o que um bardo já havia respeitado e seguido estava esquecido.
Em outros tempos, Laith teria sido reverenciado e festejado, ao vagar pelas terras montado em um cavalo ornamentado de fitas e com uma sineta presa ao pescoço. Sobre a sela de couro, estaria vestido como um príncipe, com a pompa de um esplendoroso casacão de sete cores e colares de ouro.
No entanto, o novo deus havia varrido a magia daqueles cam¬pos, deixando em seu lugar rituais vazios.
E Laith de Inishmoor, descendente dos grandes bardos do Eire, transformara-se em um pobre menestrel ambulante, vestido em roupas surradas, sapatos de outrem e a barriga vazia.
A floresta já não estava mais tão fechada. De repente, abriu-se num amplo bosque, cortado por um riacho estreito e prateado.
Olhando de um lado para outro, Laith esperou vislumbrar algum vestígio de um vilarejo que sabia haver ali por perto, ou pelo menos um chalé de madeira, onde pudesse entrar e aquecer os pés por uma hora, ou quem sabe por um dia.
A única luz vinha dos raios de sol, que lutavam contra as nuvens pesadas, anunciando que a longa e fatídica noite chegava ao fim.
Para sorte de Laith, seus pés estavam dormentes, porém os músculos das pernas doíam de tão tensionados pelo frio. Sem falar na fome que o assolava.
Em seu bolso ainda havia um pedaço de pão, que ele havia ganhado de uma gentil senhora. Mas um pouco de manteiga seria muito bem-vindo.
Não havia, porém, nenhum sinal de fumaça, nenhum animal pastando, nenhuma choupana do outro lado da clareira. Exausto, Laith suspirou, imaginando que não podia estar tão longe de algum povoado.
Apertando o casaco sobre o corpo, baixou a cabeça e enfren¬tou uma chuva fina e gelada, andando mais depressa.
Estava tão concentrado na própria amargura que levou longos minutos para perceber que seus pés caminhavam sobre uma trilha de relva rasteira. Ao levantar os olhos, notou que todas as trilhas corriam em forma de arcos em direção a um morro coberto por árvores.
Animado pela promessa de encontrar um abrigo, apressou-se, aflito, desesperado por encontrar alguém que iluminasse aquela manhã fria.
A primeira coisa que viu foi uma capa de tecido escarlate e muito brilhante, em contraste com a cor cinza dominante. Aproximando-se mais, notou uma profusão de cabelos negros e soltos.
Era uma mulher.
Laith diminuiu o passo, com medo de assustá-la, embora já não fosse mais tempo de guerras e soldados patifes, quando uma mulher sozinha precisaria cercar-se de todos os cuidados.
Ela estava ali parada. A seus pés havia um tufo de flores que surgia das raízes de uma antiga árvore espinhosa. Laith foi se aproximando, encantado pelo brilho da figura esbelta em um dia tão escuro.
Os ombros estreitos e caídos mostravam a Laith a derrota que ele conhecia tão bem. Em sua cabeça de bardo, imaginou o que a teria levado àquele lugar tão frio antes de o dia amanhecer. Qual seria o seu pesar?
Talvez um grande amor a tivesse desprezado, mas um dia tinham sido felizes justamente naquele lugar. Enquanto ele pensava sobre o que havia acontecido com a pobre moça, viu-a quando ela estendeu a mão pequena e delicada para tocar o tronco da árvore. De longe, era difícil dizer se ela procurava alguma força da natureza.
Sentindo-se um intruso, ele escondeu-se atrás de umas moitas. Enquanto a espreitava por entre os galhos, viu-a endireitar o corpo de súbito. Com um gesto rápido, ela puxou o broche pesado que prendia a capa, deixando-a cair no chão. Por baixo havia apenas um vestido de tecido leve, pouco decotado, que apenas insinuava o corpo curvilíneo.
Laith a viu estremecer de frio. Procurando se proteger, ela puxou os cabelos, compridos até a cintura, cobrindo parte de seu corpo.
Então aconteceu um momento divino... Com toda a delicade¬za, ela desfez os laços dos finos cordões que prendiam o vestido pela gola e deixou que o fino tecido deslizasse, exibindo o peito nu.
Boquiaberto, Laith agradeceu aos céus pelo presente que havia ganhado tão inesperadamente. Os seios fartos eram perfeitos, empinado, coroados por mamilos rosados.
Ele havia composto centenas, talvez até milhares de canções destinadas ao coração. Contudo, comporia muitas outras, mais belas, para aquela mulher de tão rara beleza. Ela parecia uma pagã, ou uma sacerdotisa, com rosto angelical e lábios delineados pela dor. Observá-la chegava a ofuscar seus olhos. Pensou em chamá-la, mas sentiu que sua voz sumia.
Ajoelhando-se diante de uma lagoa, como se fosse um peque¬no poço anexo a uma porção maior de água, com as mãos em concha, ela pegou um pouco da água e lavou os seios.
A água caía em cascata sobre a pele alva e macia. Graças ao silêncio sepulcral das matas, ele a ouviu suspirar de prazer. Por uma segunda vez, ela colheu a água e repetiu o ritual.
Laith manteve a respiração em suspenso para não perturbar a beleza do momento. Receava que qualquer ruído pudesse cessar o fascínio da cerimônia encantada. Ele jamais havia visto algo de beleza tão incomum.
Até então duvidara ter conhecido o desejo, quando compa¬rado ao que lhe percorria o corpo naquele instante. A espada já cravada em seu coração itinerante ganhou a companhia de uma outra, ao vê-la submergir as mãos novamente, represando a água no espaço exíguo entre as mãos, jogando-a em seguida sobre a pele de alabastro.
O ritual ficou gravado na retina de Laith: banhar os seios três vezes seguidas. De repente, lembrou-se do significado daquela cerimônia: era o caminho para abrir as portas para o reino das fadas.
Abatido por uma forte nostalgia, Laith desejou que uma fada trouxesse de volta seus entes queridos. Reprimiu-se logo em seguida, lembrando-se de que seres encantados não existiam mais, e nem moravam dentro de morros. Os clérigos haviam se encarregado de expulsá-las, alegando que se tratava de criaturas de pouca fé. No entanto, a sua verdade não era a mesma daquela moça que executava um cerimonial encantado.
Laith, então, decidiu que ele faria realizar-se o desejo dela, caso as fadas não aparecessem. Com sorte, a jovem dama o con¬fundiria com um dos seres encantados.
Ao terminar de se banhar por três vezes, ela se levantou e tornou a pôr o vestido. O tecido rapidamente colou-se ao corpo molhado, delineando-o sensualmente. Os cabelos longos movimentavam-se para a frente e para trás como se tivessem vida própria.
A parte menor do lago era circundada pela relva, formando um poço, separado da lagoa por uma árvore frondosa. A moça se levantou, andou até a árvore e circundou-a, desaparecendo nas sombras.
Foi nesse momento que Laith vislumbrou uma luz fosca iluminando parte do cenário, que o remeteu ao monte arredon¬dado que costumava ser a moradia dos Sidhe. A ansiedade o fez tremer.
Quando a jovem tornou a circundar a árvore, Laith sentiu uma sensação estranha, que o impulsionou a sair de onde estava escondido, o olhar fixo na luz mutante que aos poucos se definia. Da névoa luminosa, uma silhueta prateada se definia enquanto a mulher completava outra volta por trás da árvore. Quando ela saiu das sombras, Laith viu a luz assumir forma.
Outro homem, diante daquela visão mágica, talvez ficasse congelado de pavor, ou de espanto. Mas o instinto desenvolvido em seu sangue por várias gerações de bardos o impulsionou para a frente, antes mesmo que ele tivesse consciência de que iria se mover.
— Não! — gritou ele, rompendo violentamente o silêncio. — Não, milady!






A procura de um príncipe: O Herói Relutante
Lorraine Heath
The Reluctant Hero
Coleção Julia Historico, nº 1611
Editora Nova Cultural , 2006
Assunto Bombeiros Militares Policiais-Armados e perigosos

Estados Unidos, 1884 O xerife Matthew Knight é o herói perfeito para o próximo romance de Andrea Jackson. Suas perseguições a bandidos e foras da lei são fenomenais, mas o homem por trás da estrela de xerife é mais complicado do que ela imaginava. O que faz uma escritora que precisa criar uma história, e seu herói inspirador se recusa a cooperar? Ou melhor, o que uma escritora não faz...?

Capítulo I



"ELE CHEGOU A CAVALO DO OESTE, COM UMA ESTRELA DE LATA NO PEITO, UM REVÓLVER DE SEIS TIROS NA CINTURA, E A PROMESSA DE JUSTIÇA QUEIMANDO EM SEUS OLHOS ESCUROS." 
— O Cavaleiro do Texas Chega à Cidade, Andréa Jackson

Gallant, Texas Maio de 1884
— Estou precisando desesperadamente de um herói. Com o polegar, Matthew Knight inclinou para trás a aba de seu chapéu preto e encarou a dama diante de si. Aquela declaração inesperada o havia despertado de uma agradável sone¬ca. Como regra geral, não tolerava muito bem atitudes rudes, mas para ela poderia fazer uma exceção.
Ele a reconheceu apenas por tê-la visto chegar na diligência do meio-dia. Estivera sentado naquele banco gasto, em frente à delegacia, observando o movimento das pessoas, pensando que se tratava de um belo dia para não fazer nada, rezando para que nada acontecesse para mudar sua rotina.
O verão ainda iria demorar mais um ou dois meses para che¬gar. Ele tampouco tinha se incomodado com as nuvens de poeira em espiral que voavam ao longo da Main Street, causadas pelas carroças e cavalos. A diligência, que ao passar aumentara ainda mais a poeira, parou diante do único hotel do vilarejo.
Seu proprietário, Lester Anderson, sem muita criatividade, havia batizado o lugar de "Hotel", o que, na imaginação de Matthew, era tão ridículo como chamar seu cavalo de "Cavalo", ou seu cachorro de "Cão". Em uma tabuleta mal-pintada, Lester se gabava de que seu hotel tinha vinte e oito quartos; como se fossem muitos. Matthew nunca havia visto a placa de "Temos Vagas" ser retirada, e ele costumava notar tudo, pois esse era o seu trabalho.
A mulher havia atraído sua atenção no instante em que descera da diligência, como uma princesa chegando a seu castelo, ciente de que seus servos a esperavam para cumprir ordens. Seu vistoso traje verde-escuro denotava que ela era meticulosa no vestir.
Ela tinha o status de "garota da cidade" estampado na testa, comprovado desde o chapéu chique, cheio de enfeites, até os sapatos de verniz brilhante. Garota da cidade, e mimada, por sinal.
Matthew observara o cocheiro e seu ajudante batalhar para apear o baú da moça da parte superior do coche, levando-o, em seguida, para dentro do hotel, enquanto ela balançava as mãos nervosamente, preocupada com suas preciosas roupas de baixo. Pronta para resgatá-las, claro.



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