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sábado, 1 de setembro de 2012

A FÚRIA DE UM DESEJO


A fúria de um desejo
Frustation
Charlotte Lamb
Coleção Julia, nº 77
Série
Romances Editora Abril, 1979


Natalie vivia como uma sombra atormentada pelas lembranças de Angus, até que conheceu Jake Lang, diretor da emissora de tevê onde trabalhava. Jake acendeu uma faísca em seus sentidos adormecidos e Natalie passou a quere-lo desesperadamente... Mas ela precisava de tempo para aceitar outro homem em sua vida e Jake não sabia esperar. Atormentado pela recusa, pelo temor de ser apenas um substituto de Angus, Jake lançou Natalie num verdadeiro inferno, povoado pelo seu ódio, pelo seu desejo, por sua fria determinação de humilhá-la. Diante de tamanha fúria de destruição, seria ainda possível salvar o amor?

trecho  do livro

A atmosfera da festa tinha mudado completamente. A conversa . esmoreceu ou continuou em outras salas. Natalie sentiu-se sozinha e foi percorrida por um arrepio de frio. Hora de ir embora, pensou fria-mente. Não ia aguentar aquela nova atmosfera.
Olhou à volta para procurar Carol e despedir-se e então aconteceu: Do outro lado da sala viu uma cabeça dourada e seu coração  pulou como se estivesse na descida de uma montanha-russa. A textura e a cor do cabelo louro e grosso, as costas vigorosas, o pescoço forte, tudo se parecia demais com Angus. Fitou-o, incrédula, e por um ins¬tante pareceu real. Até o corpo alto e magro, indolentemente apoiado enquanto conversava com alguém. Só as roupas eram diferentes. Angus nunca usaria um jeans preto e apertado e uma malha de gola olímpica cinza. Usava sempre ternos formais, elegantes e imaculados.
Mesmo assim esperou, cora os olhos fixos naquela cabeça, implo¬rando secretamente que se virasse para que pudesse ver seu rosto.
Com certeza ele não se pareceria com Angus. Mas não podia des¬viar os olhos enquanto não visse o rosto.
Talvez a intensa concentração o tenha alcançado de alguma forma. De repente viu que ele enrijecia o corpo, deixando os músculos visí¬veis por baixo da malha justa. Virou a cabeça e olhou para o outro lado da sala. Mesmo de perfil parecia-se ligeiramente com Angus, mas depois olhou-a de frente e o encanto acabou. Não se parecia nada com Angus.
Natalie estava tão desapontada que só conseguiu ficar parada, olhando para ele; esquecida de si mesma, uma figura esguia e atraente envolta numa tonalidade verde como o mar, a garganta clara que pulsava descontroladamente, os olhos grandes e arregalados.
Pareceu-lhe uma eternidade enquanto olhava para ele, assimilando as linhas fortes e másculas do rosto, os olhos cinzentos e estreitos e a boca sensual e bem-feita. Podia não parecer com Angus de rosto, mas ainda assim havia aquela semelhança espantosa e hipnotizadora.
Subitamente percebeu que o encarava, enrubesceu e virou o rosto, dispondo-se a partir  no dia seguinte explicaria tudo a Carol.
Sentiu um leve toque no braço. Virou-se e prendeu a respiração ao ver quem estava a seu lado.
—  Olá — disse ele com intimidade, como se a conhecesse há muito tempo, como se estivesse esperando a chegada dela.
Espantada, corou, sentindo uma onda de calor subir pelo pescoço e rosto. Os olhos cinzentos a observavam como se estivessem fasci¬nados.
—  Olá — respondeu roucamente. O que ele estaria pensando?
—  Venha dançar — convidou, sorrindo para os olhos azuis que se ergueram para ele.
Ela começou a gaguejar uma desculpa, desviando o olhar, mas ele sorriu, pôs um dedo em seus lábios e passou o braço pela pintura delicada. Natalie ficou tensa com aquele primeiro contato, lançou-lhe um olhar e viu que ele a observava. Então teve certeza de que não ia embora.
Pareciam voar ao som da música, os corpos muito próximos, o braço dele em volta dela possessivamente, uma das mãos na cintura; a outra, que começava a mover-se vagarosamente, acariciando as costas, acompanhando a linha elegante da coluna, subindo até tocar a suave curva do ombro.

Natalie estava um sonho. Dançava com os olhos fechados, o rosto encostado no dele, perfeitamente consciente do corpo musculoso que a apertava, a música sussurrando em seus ouvidos. As sombras enfu-maçadas moviam-se em volta deles, nus ela não as via. Tinha a cabeça leve, nebulosa, e estava passando os braços pelo pescoço dele. Nem mesmo sabia como tinham chegado até aí.
—  Meu Deus, você é linda — sussurrou em seu ouvido, movendo suavemente a boca sobre a concha clara, beijando levemente os lóbu¬los, depois atrás das orelhas, o rosto mergulhado na onda de cabelos perfumados.
Ela não falava. O cabelo dourado e Uso estava sob seus dedos. Tocou-o com paixão, acariciando a nuca vigorosa, sem perceber mais nada que não fosse o sonho que a envolvia. Angus, pensou, Angus. . .
Sentiu a mão dele que acariciava seu pescoço e pegava delicada¬mente seu queixo, fazendo-a virar a cabeça. Com os olhos fechados, sentiu que a boca dele tocava seus lábios e gemeu.
—  Vamos sair daqui — murmurou ele com voz estranha e ardente, parando de dançar.
Natalie piscou, abrindo os olhos com relutância.
A sala saiu das sombras e agora algumas delas tinham rosto e olha¬vam para eles fixamente. Alguns demonstravam curiosidade, outros estavam apenas divertidos e uma pessoa parecia muito aborrecida. Os olhinhos agressivos e curiosos de Sandra pareciam punhais, mas Na¬talie desviou o olhar sem se perturbar, mal distinguindo as pessoas em seu sonho.

— Vamos? — perguntou, observando-a, e ela olhou para ele entre os cílios e sorriu, sem perceber que aquele sorriso demorado continha um convite explícito e que um ar sensual brilhava em seus olhos.
Ele respirou de modo estranho e profundo.
— Tem um casaco? — perguntou como se tivesse dificuldade em falar.
Ela sentia o mesmo. Não conseguiu responder; limitou-se a sacudir a cabeça.
Abriram caminho entre as pessoas, seguidos por olhares curiosos e maliciosos; enquanto a música suave continuava a repercutir em sua cabeça, Natalie sentiu o braço dele que a guiava em direção à porta da frente.
O ar da noite estava frio e ela estremeceu quando penetrou na melancolia de seus pensamentos.
— Meu carro está logo ali — disse ele a seu lado.
Se tivesse caminhado mais um pouco ao contato daquela brisa revigorante, teria acordado, mas a bebida que consumiu de estômago  vazio era demais e num instante estava no carro dele, aconchegando-se ao calor do aquecedor enquanto se afastavam.
Ele olhou para os fios de cabelos presos em sua manga quando ela apoiou a cabeça em seu ombro e sorriu.
—  Você é a mulher mais calada que já conheci.
—  Sinto muito — disse, erguendo o olhar.
—  Oh, não — disse ele. — Gosto disso. — Os olhos cinzentos se fixaram em seu rosto.
E ela pensava: de perfil podia até ser Angus. Tinha as mesmas fei¬ções fortes, o vigor que fizera de Angus um grande jogador de rúgbi. E havia algo nele que sugeria a mesma energia de Angus, sua ambi-ção e dinamismo pessoal.
—  Onde mora? — perguntou ele e Natalie lhe deu o endereço, apoiando-se no banco e fechando os olhos, enquanto ele guiava pelas ruas desertas. O carro parou e ela saiu como uma sonâmbula.
—  Café? — sugeriu ele, seguindo-a.
Virou-se como se estivesse surpresa ao vê-lo a seu lado, depois sorriu. O apartamento estava quente e acolhedor, depois do ar frio da rua. Ele a seguiu até a cozinha e, quando ela ligou a cafeteira elétrica, passou os braços em volta dela e puxou-a para perto de si.
Moveu a boca pelo pescoço macio e Natalie sentiu a tensão do corpo insinuante que a envolvia.
—  Pensei que só acontecesse nos sonhos — sussurrou ele contra a pele macia. — Você é um sonho? É bonita demais para ser real.
Ela fechou os olhos. Sim, é um sonho, e já sonhei com isso antes, mas nunca foi tão doce, pensou. Não media as consequências, não percebia a realidade exterior do que estava acontecendo por dentro dela.
Ele forçou-a a virar-se e beijou-a suavemente. Ela passou os braços em volta do pescoço vigoroso, mergulhando os dedos no cabelo claro, tão familiar. Seu coração começou a bater selvagemente. Beijaram-se como se fossem amantes separados há anos.
Sentiu as batidas fortes do coração dele contra seus seios, o calor da carne que passava para seu próprio corpo. Ele a puxou mais para perto, acariciando-a sem parar.
—  Se estou sonhando, espero nunca mais acordar — murmurou, movendo a boca para a garganta de Natalie.
Ela estava quieta nos braços fortes, a cabeça inclinada para trás, deixando que beijasse a pele alva e delicada, os lábios escorregando do pescoço para o ombro e depois até a curva delicada dos seios. Ele começou a tremer. Natalie sentiu seus movimentos convulsivos e gemeu, depois ele pousou novamente a boca sobre a dela e o beijo tornou-se profundo, mais profundo, até que ambos ficaram ofegantes e tontos.
—  O café — sussurrou Natalie, erguendo os olhos, assustada, para encará-lo. Em toda a sua vida nunca tinha se comportado daquela maneira com um estranho. Mesmo com Angus tinham-se passado se-manas antes que a beijasse. Normalmente era uma moça tímida, tran¬quila, ligeiramente retraída, moderada o suficiente para manter os homens a uma certa distância enquanto formava uma opinião sobre eles.
Desde a morte de Angus não marcou mais encontros nem permitiu que outro homem chegasse tão perto, a ponto de tocá-la. Vivera numa concha fria de infelicidade, mas agora, naquela noite, a concha se abriu e ela estremeceu ao perceber sua própria vulnerabilidade.
—  Não é café que eu quero — disse ele roucamente. Colocou a mão na garganta dela, que pulsava, acariciando a pele.
Ela estremeceu, colocando as mãos nos ombros fortes. Os cílios escuros tremeram e os olhos azuis o fitaram, com expressão alarmada e ao mesmo tempo, sensual.
—Não — disse baixinho, com os lábios trêmulos.
Ele fechou as mãos sobre as dela e ergueu-as. Beijou gentilmente as palmas frias, olhando para ela com um sorriso estranhamente intimo.
—  Bem, eu sei que pulamos algumas etapas, mas agora estamos aqui e ambos sabemos disso. Foi assim desde o primeiro olhar. Per¬cebi que queria você ao primeiro olhar e, se você for honesta, deve confessar que sentiu o mesmo.
A cabeça de Natalie rodopiava com uma espécie de febre, os olhos estavam brilhantes e a boca, seca. Tentou falar, negar, mas não con¬seguiu pronunciar uma só sílaba. Baixou os olhos para aquela boca desejável e ele se inclinou lentamente. A linha dura e sensual daqueles lábios mantinha os olhos dela presos enquanto se aproximava até tocá-la. Gemeu, inclinando a cabeça e abrindo a boca.
Ele continuou a beijá-la e ergueu-a nos braços, levando-a pelo cor¬redor estreito até o quarto. Abriu a porta com um pontapé e entrou.
Natalie tentou sair do estado hipnótico em que estava quando ele abriu o zíper do vestido e beijou-a de novo.
—  Não tente pensar — disse ele, bem suave. — Vá com a maré.
A maré estava violenta. A escuridão tornava tudo mais fácil por¬que, sob os dedos dela, os ossos eram familiares e a avidez sensual que a devorava, há longo tempo insatisfeita, pressionava-a a pros-seguir.
Ele era um amante calmo, gentil, e o toque de suas mãos na pele suave era um ato de amor, como se o simples fato de tocá-la já o deixasse maluco. Agora ela estava gemendo, apertando-se e torcen¬do-se de encontro ao corpo dele, a carícia ardente da pele contra a pele deixando-a fora de si.
Subitamente ele ficou quieto, imóvel, fitando-a na escuridão do quarto.
—  Como foi que me chamou?
Ela não queria ser arrancada da onda quente de paixão que a dominava.
—  O... quê? — gaguejou.
—  Quem é Angus? — perguntou asperamente.
A pergunta foi como uma faca enfiada em sua carne.
—  Oh, Deus! — gemeu ela, virando o rosto. Ele a obrigou a se virar violentamente.
—  Eu fiz uma pergunta!
Ela estava chorando baixinho, cobrindo o rosto com as mãos.
—  Quem é Angus? — perguntou de novo, e agora o tom de sua voz a assustou.
—  Meu marido — sussurrou.
—  Meu Deus — disse ele  roucamente.  Depois saiu da cama ainda no escuro, apanhando as roupas espalhadas pelo chão, e ves¬tiu-se rapidamente, com gestos nervosos que indicavam a raiva que estava sentindo.
Natalie ficou lá, tão chocada que nem percebia a própria nudez, a mente e o corpo frios como pedra, sentindo náusea e acusando-se amargamente. Podia ouvir o barulho do pequeno despertador pra¬teado que Angus lhe dera de presente no casamento: o tique-taque compassado como uma vozinha parecia acusá-la também.
Ele se voltou, completamente vestido, e Natalie sentiu que a olhava através da escuridão. O brilho claro dos olhos dele pousou sobre o corpo dela e, embora a expressão fosse invisível, sentiu o desgosto e o desprezo que havia naquele olhar.
—  Agradeça a Angus pelo empréstimo de sua propriedade — disse com cinismo. — Mas diga também que nunca apreciei produtos de segunda mão, mesmo que fossem baratos, e ele tem toda a minha simpatia.
A porta bateu violentamente antes que ela se recuperasse do tom e das palavras amargas. Não tivera chance de explicar, de desculpar-se. Os passos dele ecoaram pelo corredor, a porta de entrada foi aberta e fechada violentamente e cada vidro do apartamento tilintou num protesto.


3 comentários:

  1. Já li este livro há um tempo atrás. Muito Bom. Recomendo

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  2. Esse livro é maravilhoso! Dei boas risadas

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  3. Achei marcante a leitura. O maior parte do livro saindo com um cara que ela não tinha interesse.

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