
(Midnight’s Bride)
Sophia Johnson
Escócia, 1073
Coração de guerreiro...
Alma de amante!
Mereck de Blackthorn jurou que jamais se apaixonaria, pois fora amaldiçoado com o poderoso sangue dos Sem Alma. Contudo, ele precisava se casar, e ao conhecer Lynette de Caer Cadwell, viu-se disposto a afastá-la do jugo do pai violento, ainda que se recusasse a lhe entregar o coração...
Com um pai cruel e determinado a livrar-se dela, a corajosa Lynette não conseguiu evitar o casamento com o temível Mereck. Logo, porém, descobriu que Mereck não era o bárbaro selvagem que ela imaginava, e que os beijos daquele homem a incendiavam por dentro, despertando uma paixão intensa e avassaladora, que ela ansiava por libertar...
Querida leitora,
Abrir um livro de Sophia Johnson é como abrir um portal para uma viagem no tempo, para outra época e outro lugar, um mundo de sonho e fantasia onde a nossa imaginação corre solta! Embarque nesta aventura fascinante, em que um valoroso guerreiro se casa com uma jovem para protegê-la da violência do pai, mas se recusa a entregar o coração, e veja do que é capaz uma mulher apaixonada para resgatar em um homem ferido pelo passado a capacidade de amar outra vez...
Leonice Pomponio Editora
Sophia Johnson transfere para as histórias que escreve a sua personalidade vivaz e alegria de viver. Essa sensibilidade de emoções, aliadas à imaginação e ao talento, e mais o hábito de pesquisar constantemente o estilo de vida e costumes de épocas passadas, resulta em romances que fascinam os leitores!
Prólogo
Castelo Blackthorn, Escócia, 1050
O jovem Mereck de Blackthorn espiava a mulher corcunda, que se arrastava com os pés retorcidos e as per¬nas tortas. Ela exigira entrada nos portões do castelo com voz surpreendentemente forte, que tinha se sobreposto ao falatório da multidão e aos ruídos das carroças e dos cascos dos cavalos.
— Meu nome é Beyahita e vim para contar a história dos Baresark mais conhecidos como Sem Alma.
A voz da mulher causava arrepios, mas Mereck aproxi¬mou-se mesmo assim. Beyahita, mais astuta do que a apa¬rência levava a crer, havia feito um acordo com lady Neilson, que com freqüência buscava avivar as longas noites de in¬verno com contadores de histórias. Em troca de comida e abrigo, ela tinha prometido uma nova narrativa a cada noi¬te. Contaria as lendas do País de Gales sobre os Sem Alma, homens que se transformavam parcialmente em animais quando enraivecidos.
Naquela noite sem lua, após todos terem jantado e as crianças terem sido levadas para a cama, Mereck saiu nas pontas dos pés do quarto que dividia com o meio-irmão e os primos. Os dentes tremiam, por isso apertou o manto que trazia nos ombros. Conforme ele avançava rente às paredes escuras do grande salão, Beyahita dava início à primeira narrativa.
— Um menino robusto de nome Gruffyd nasceu à meia-noite do último dia de junho no ano de 943. O bebê deu o seu primeiro grito quando a mãe suspirou pela última vez. Logo se descobriu que Gruffyd era um ser único, pois podia escutar os pensamentos dos outros.
Ela fez uma pausa e procurou Mereck com o olhar no canto mais escuro do salão. Gesticulou com a mão em forma de garra e a voz se elevou.
— Quando possuído pelo temperamento de Lúcifer, ele se tornava tão enraivecido que não tinha consciência do que fazia. Espumava e uivava como um animal. Aqueles que testemunharam seus ataques de fúria chamavam-no de Gruffyd, o Sem Alma, em homenagem aos horrendos guer-reiros de Odin. Gruffyd cresceu, tornando-se mais forte do que a maioria dos homens, e se casou com uma mulher frágil de nome Elgin. Ela também deu à luz numa noite escura. Logo depois, ficou demente e balbuciava que o marido havia roubado seus pensamentos. Certo dia, após Gruffyd ter en¬tregado a ela o filho Aeneas, Elgin subiu, atordoada, até o alto do castelo com o bebê nos braços, ameaçando se jogar. O marido apaixonado pegou sua mão, desesperado, tentando evitar um desastre, mas ela, com a força que só os loucos têm, se desvencilhou. Gruffyd conseguiu arrancar o menino dos braços da mãe, mas não pôde evitar que ela se atirasse contra as rochas.
Mereck estremeceu e se aproximou ainda mais da parede. Todos os presentes se inclinaram para frente quando a voz da velha senhora ficou mais baixa.
— Logo se espalhou o boato de que, por ter roubado os pensamentos de Elgin, Gruffyd roubara sua razão, enlouquecendo-a. Os homens que ousaram contar essa história desapareceram. — Ela olhou ao redor, a voz mais alta a cada palavra. — Quando esses homens foram encontrados, descobriu-se que haviam sido brutalmente assassinados, as línguas e partes do corpo arrancadas como se tivessem sido atacados por um bicho.
Ninguém notou Mereck, o filho bastardo de Donald Morgan e Aeneid ap Tewdwr, uma galesa capturada, es¬condido nas sombras. Tampouco viram o olhar da mulher fixo no menino. Somente ele percebeu.
Noite após noite, ela narrou a história de mais uma ge¬ração amaldiçoada. Depois de Gruffyd, foi a vez de Aeneas e Fallon, de Gilbride e Lienid. Todas as mulheres deram à luz em noites sem luar. Todas ficaram insanas e morreram depois do nascimento dos filhos. Mereck, aterrorizado, ab-sorvia a lenda.
Uma noite Beyahita começou a última história.
— Sussurra o vento que mais um herdeiro direto de Gruffyd, um século após seu nascimento, veio ao mundo na meia-noi¬te escura do último dia de junho do ano de 1043. Esse menino foi condenado a matar a própria mãe no parto e está desti¬nado a destruir qualquer mulher que venha a amar. — Ela riu como uma demente e apontou o dedo esquelético na di¬reção de Mereck.
Aquela era a data de nascimento dele e Beyahita acabara de falar de sua mãe. O garoto escondeu o rosto na tapeçaria suspensa. Não queria ser um Sem Alma. Só queria ser um menino amado pelos pais, como o meio-irmão Damron.
Jamais entregaria seu coração a uma mulher. Nunca amaria. Pois descobrira como a mãe havia morrido. Ele a tinha matado.
Capítulo I
Castelo Wycliffe, Inglaterra, 1073
Lynette observava com olhos arregalados o homem que estava diante da lareira. Era mais baixo do que ela, as calças sujas pendiam sobre os ossos finos, a túnica, man¬chada com os alimentos que consumira nos últimos dias, estava suspensa em um ombro estreito. O barão Thomas Durham tinha, talvez, uma dúzia de fios de cabelo, ainda menos dentes e a audição prejudicada.
— Virgem Santa! Ele é mais velho que o senhor, papai! — Lynette exclamou. — Pensei que vomitaria o desjejum quando ele tocou minha mão. Não suporto pensar em me casar com ele. Não! Jamais!
— Vai, sim — disse o barão Wycliffe cheio de ódio. — Fingir estar grávida não mudará isso — acrescentou, en¬fiando um dedo no travesseiro escondido sob as roupas da filha. Ele é seu décimo pretendente em meses e suas irmãs já se cansaram de esperar que você encontre o marido perfeito. Esse homem não existe. — Ele esmurrou a mesa, cuspindo ao esbravejar. — Garota detestável, já tem dezoito anos e logo estará velha demais até mesmo para um homem como o barão.
— Ele é magro demais. — Revirou os olhos com desagra¬do. — Toda vez que me vê, a baba escorre por entre os poucos dentes podres que tem. Ele tentou agarrar meus seios.
O homem cambaleante a observava com cobiça.
— Ficarei em meu quarto até que ele vá embora. Não me casarei com ele, nem hoje, nem nunca!
— Recuse e sentirá o peso de minha bengala em suas costas — o pai ameaçou. — Não comerá nada além de pão e água até voltar à razão. — Ele a levantou da cadeira com tanta força que a derrubou no chão.
O pretendente observava a cena sorrindo.
— Mostre a ela, milorde, que falamos a sério. Casaremos assim que ela parir — disse, deixando de sorrir quando o pai levou a filha pelos cabelos para fora do salão.
Não pela primeira vez, o barão Wycliffe jogou a filha para dentro do quarto, trancando-a. Sempre que desprezava um pretendente, ele batia nela e tentava obrigá-la. O pai não avaliava sua forte determinação.
O sol já começava a se pôr quando a porta foi aberta pelas meias-irmãs. Ao ver as criadas trazerem uma tina para o banho, Lynette logo se pôs em guarda, pois o pai nunca permitia que ela se banhasse após terem discutido.
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