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sábado, 4 de outubro de 2014

LUA NASCENTE

Lua Nascente
(Moonrise)
Ana Seymour



Naquela noite, seus destinos mudaram para sempre...
Inglaterra, 1666

Ao jurar combater as injustiças sofridas por seu povo, Sarah Fairfax entrou em um jogo altamente perigoso: torno-se a mais ferrenha inimiga do poderoso lorde Anthony Rutledge, colocando em risco não apenas sua liberdade, mas também seu bem guardado coração!
Lorde Anthony recebeu uma missão do rei da Inglaterra: capturar de qualquer maneira o bandido que vinha aterrorizando os homens ricos de Yorkshire. Ele adorava desafios, mas não esperava encontrar Sarah pela frente – mulher belíssima, que escondia tantos segredos quanto os pântanos das terras do norte...

Prólogo

3 de setembro de 1666

Dos grandes jardins floridos de Vauxhall às ruas barulhentas e movimentadas de Southwark, os londrinos concordavam que aquele ha¬via sido um ano muito estranho no que se referia ao tempo. A cidade estava seca como um deserto. Em vez dos frescos ventos do outono, soprava uma brisa quente que não fazia nada para dissipar o calor. Ao contrário. Servia apenas para aumentá-lo. E, pelo visto, as coisas não iriam mudar tão cedo.
Trancafiada numa pequena cela de pedra, Sarah Fairfax transpirava tanto, que seu vestido de algodão parecia grudar em seu corpo. Pela milésima vez na¬quele dia, olhou para uma bacia vazia em cima da única mesa que havia no recinto. Ah, como seria bom se pudesse tomar um banho fresco...
Um movimento por atrás da janelinha cheia de grades chamou-lhe a atenção. A luz era tão fraca, que mal conseguiu reconhecer o rosto do sentinela... um rosto malévolo que assombrava seus sonhos, todas as noites.
— Diga uma palavrinha só, garota. Um simples "sim" e você terá água fresquinha! Vamos, não custaria nada. Uma moça bonita como você precisa tomar um banho nesse calor!
O homem era caolho. No lugar do olho esquerdo, havia uma grande cicatriz. O direito, porém, brilhava com tanta maldade, que fazia com que o estômago de Sarah se contraísse.
— Não, obrigada — ela respondeu, tentando manter a calma.
Virou as costas e se aproximou de uma outra janela, sua única fonte de luz nos últimos... quantos dias mes¬mo? Ou será que já eram semanas? Ou meses? Tinha perdido a noção do tempo.
No princípio, ela havia pedido velas, cobertas limpas, material para escrever. Os guardas pareciam ansiosos em agradar a bela prisioneira, mas ela logo descobrira que haveria um preço para tamanha generosidade. E, finalmente, parara de pedir fosse lá o que fosse.
Sentia o olhar maldoso do sentinela em suas costas. Seu estômago se contraiu de novo. Ao entrar na Torre, meses atrás, o fizera de cabeça erguida. Parecia pronta para desafiar o mundo. Mas os dias intermináveis na¬quela pequena cela haviam se encarregado de minar sua autoconfiança juntamente com toda sua esperança.
A única coisa que permanecia era o ódio.
Seu pai, se estivesse vivo, certamente iria lhe dizer para desistir dele também. Podia quase ouvir sua voz sonora ecoando dentro daquelas tenebrosas paredes de pedra.
— Minha filha querida, as pessoas precisam fazer as pazes com a humanidade, antes de encontrar a paz com o Criador.
Sarah acreditava que seu irmão Jack conseguira isso antes de morrer. Ele estava tão sereno quando o vira pela última vez, naquela mesma cela... De qualquer modo, talvez ela não tivesse tão bons sentimentos as¬sim. Pretendia levar seu ódio e sua raiva para o tú¬mulo... e ainda além.
Devia passar ligeiramente da uma da tarde. Àquela altura, Sarah já conhecia cada ângulo dos raios do sol que entravam pela pequena janela e podia dizer as horas com precisão. O sentinela havia se afastado. Com certeza fora atormentar outra pobre vítima.
Momentos depois, porém, ouviu-se um barulho na porta. Uma chave foi inserida na fechadura. Sarah deixou escapar um grito. A rotina da prisão era mais regular do que as marés e aquela não era a hora de visitas. O que estaria acontecendo? Será que haviam vindo para...
A porta finalmente se abriu, fazendo ruído no chão de pedra. E um homem entrou. Estava todo vestido de preto. Cor de seus cabelos e também de seus olhos.
— Você! — exclamou Sarah revoltada.
Os olhos pretos a encaravam com curiosidade.
— Surpresa em me ver, meu amor?
Ela fez força para manter a calma. Precisava ser forte.
— Não. Não estou surpresa. Estou desapontada. Pensei que, a uma horas dessas, os holandeses já ti¬vessem feito picadinhos de você.
O homem sorriu e deu um passo à frente.
— Venho me mantendo afastado dessa guerra, que¬rida. Como pode ver, ainda tenho alguns assuntos a tratar no mundo dos vivos
Sarah levantou a cabeça.
— Seja lá que assunto você tenha a tratar, não é nada comigo o que houve entre nos, ja acabou há muito tempo!
— Talvez você esteja enganada...
Aquelas palavras, ditas de um modo tão sensual, fizeram com que o coração de Sarah começasse a bater com mais força. De qualquer forma, era preciso manter o controle a todo preço.
— Por favor, Anthony. Deixe-me em paz. Ele deu mais um passo à frente.
— Sinto muito, querida. Não posso fazer isso.
Tomou-a nos braços e seus lábios encontraram os dela com a inexorável força de um rio buscando o mar. Seus corpos se fundiram e, durante alguns instantes, foi como se ambos desafiassem as leis de um mundo natural para transformarem-se num só ser.
Levou um certo tempo para que ambos registrassem um som irritante vindo da porta. Anthony foi o pri¬meiro a se afastar. Virou-se em direção ao ruído, cu¬rioso e intrigado.
— Fico feliz que esteja se divertindo, senhor. — Era o sentinela que os espiava através das barras da cela. — Mas é melhor se apressar. Só posso deixá-lo ficar aí dentro por mais alguns minutos.
Anthony deu dois passos largos em direção à porta. E, quando falou, o fez com a voz absolutamente calma e pausada.
— Meu bom homem, se eu o pegar espiando de novo por essas grades, vou arrancar seu único olho e jogá-lo aos porcos.
O sentinela engoliu em seco, uma gota de suor escorrendo-lhe pelo rosto.
— Você me entendeu? — perguntou Anthony, sen¬tindo-se quase satisfeito.
O sentinela fez que sim com a cabeça, então desa¬pareceu de vista o quanto antes.
Anthony aproximou-se novamente de Sarah, seus olhos escuros como a noite estavam cheios de preocupação.
— Esse homem aborreceu você, Sarah? Alguém a machucou? Por favor, eu preciso saber...
Ela sentia-se fraca. Meses de confinamento e pouca comida haviam sido mais do que suficientes para aca¬bar com toda a sua energia.
— Posso saber o que veio fazer aqui, Anthony? - Ele levantou a mão e acariciou-lhe os cabelos.
— Vim tirá-la daqui, querida.
Ela deu um riso irônico.
— Caso não tenha esquecido, lorde Rutledge, seu rei tem outros planos para mim. Se os procuradores reais vencerem, vou ter minha cabecinha arrancada de meu corpo.
Anthony Rutledge olhou para seu branco e delicado pescoço.
— Não, Sarah. Isso não vai acontecer. Vamos sair juntos daqui... hoje.
— Ah, sim, mas é claro. Eu, uma prisioneira con¬denada, saindo daqui sem que ninguém me impeça...
— Você são sairia como uma prisioneira condenada.
— Não?
— Não. — Os olhos escuros de Anthony Rutledge ficaram ainda mais escuros. — Sairia daqui como mi¬nha mulher.
Sarah arregalou os olhos, branca como um fantasma.
— Sua mulher!
Anthony fez menção de tomar-lhe a mão, mas ela se esquivou daquele contato. Ele explicou, a voz cheia de carinho e paciência.
— Eu sei que talvez a idéia não seja do seu agrado, mas é o único jeito. Case-se comigo, Sarah. E você poderá sair daqui hoje mesmo, como uma mulher livre.
Ela se afastou dele, encostando-se nas pedras frias da parede. Seus olhos acinzentados ficaram ainda mais brilhantes.
— Eu prefiro apodrecer no meio do inferno!
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