O Cavaleiro das Cruzadas
Quando Nicholas Hendry retornou são e salvo das Cruzadas, jurou que nunca mais iria namorar todas as moças do condado. Mas não contava com os encantos da filha do taberneiro Beatrice Thibault. Beatrice ocupava seus dias entre o árduo trabalho de casa e os cuidados com o sobrinho, de quem cuidava desde que ele nascera. Mas era independente e arredia demais, e seria difícil Nick tê-la em seus braços para apenas uns poucos momentos de prazer. Nick então se lembrou que juramentos precisam ser cumpridos...
CAPÍTULO 1
_Será impossível permanecer sentado no cavalo se continuar be¬bendo assim - disse Gervase de Palgrave, afastando a garrafa que a garçonete sorridente lhe oferecia.
O outro cavaleiro esparramado na cadeira a sua frente, franziu as sobrancelhas, piscou de modo exagerado e impediu que a jovem a seu lado se afastasse, segurando seu braço com mão firme. A garrafa de bebida espatifou-se no chão.
_Em nome de todos os santos, Nick, você está bêbado como um gambá! - exclamou Gervase, dando um pulo da banqueta na qual se sentava e passando as mãos nas pernas, onde o líquido respingara nas roupas. - Vou ficar cheirando como uma adega.
O companheiro permaneceu sentado, mas lançou um olhar de remorso para a jovem que os servira, mur¬murando com delicadeza, e temperando as desculpas com um sorriso:
_Lamento muito pelo estrago, minha querida. Não foi de propósito.
Como por encanto, toda a zanga que a moça sentia desapareceu do rosto redondo.
_Foi um acidente, meu senhor - respondeu, o olhar fixo no belo cavaleiro.
Mesmo após o cansaço de muitas semanas de viagem, as feições másculas de Nicholas de Hendry faziam com que todos o olhassem com admiração.
Enquanto a moça retirava a jarra molhada às pressas, e limpava o liquido derramado com a própria saia, Ger¬vase voltou a sentar-se, resmungando com desagrado.
_O que há com você, meu amigo? Falta pouco para chegarmos a Hendry Hall, entretanto insiste em ficar aqui, nesta estalagem, como um coelho assustado na toca. Não está ansioso para rever sua família?
Os dois cavaleiros eram os únicos clientes na pe¬quena estalagem que, na realidade, não passava de uma cervejaria, em nada comparável com o estabele-cimentos grandes e animados que haviam visitado na longa viagem de volta à casa.
Nicholas fincou os cotovelos sobre a mesa, e ficou olhando para o fundo do copo que tinha à frente. Depois de uma longa pausa, suspirou, murmurando, sem er-guer o olhar:
_É verdade...
Gervase pareceu contente por convencer o companheiro.
_Então, vamos embora, homem! Garanto que de¬vem existir algumas damas ansiosas para rever seu rosto feio quando voltar para casa. - Com o canto do olho observou a jovem que os atendera e que não pa¬rava de encarar Nicholas. - Aliás, não precisa nem voltar para encontrar as que o admiram.
Nicholas tornou a sorrir para a jovem que ficou ver¬melha como um pimentão. Mexendo-se sem parar, ner¬vosa e desengonçada, ela ficou segurando com força a garrafa de bebida em uma das mãos e a barra do ves¬tido ensopado na outra.
_Será que os cavalheiros.., meus senhores... gos¬tariam de mais cerveja?
Nicholas deu um suspiro, arrastando um banco para longe da mesa, com um certo esforço.
_Não, minha querida. Meu amigo tem razão. Já é mais do que tempo de voltar para casa. - Levan¬tou-se, encarando o companheiro. - Aceitará a hos-pitalidade de Hendry Hall esta noite antes de prosse¬guir viagem, Gervase?
O outro rapaz inclinou a cabeça, concordando.
_Gostaria muito de conhecer seu pai. Vai se sentir orgulhoso de dar as boas-vindas para o filho herói.
Nicholas riu sem alegria.
_Quer dizer que o fato de termos sobrevivido na guerra nos transforma em heróis?
Gervase pegou as luvas que deixara sobre a mesa e levantou-se também, comentando:
_Todos os cruzados que retornam aos lares são heróis, Nick.
_Não vencemos nada de concreto, nada realizamos, somente enviamos alguns pobres pagãos a seus infer¬nos pagãos. Mas, assim agindo, servimos ao Cristia¬nismo e continuamos vivendo para contar a história. Sim, talvez você tenha razão, Gervase. Isso deve bastar para deixar meu pai orgulhoso e, assim sendo, não sei quem ficará mais atônito, ele ou eu.
Os dois cavaleiros dirigiam-se para a porta da es¬talagem, Nicholas um tanto cambaleante, procurando recuperar o equilíbrio.
Gervase amparou o amigo, passando uma mão por baixo do cotovelo de Nicholas, e perguntando:
_Por que seu pai ficaria atônito? Como não ficar orgulhoso de um filho como você? Cavaleiro soberbo, soldado invencível com uma espada na mão, raciocínio rápido, sem mencionar a aparência que fez inúmeros corações de donzelas se derreterem no caminho entre a Inglaterra e a Sicília.
_Aí está o problema, para ser exato, meu amigo. Meu pai sempre se aborreceu com o fato de o filho negligenciar os primeiros atributos que você mencio-nou, a favor do último.
_Ele desaprova que você seja um conquistador de belas mulheres?
Nicholas semicerrou os olhos ao deparar-se com a luz forte do sol.
_É um sentimento que oscila entre desaprovação e desgosto, creio. Sempre se queixou de que causei problemas com meus relacionamentos irresponsáveis.
Gervase observou Nicholas. Era um cavaleiro alto, magro e louro, apenas alguns anos mais velho que Nicholas, porém a expressão de seu rosto era muito mais ingênua e jovial. Os olhos azuis eram claros e inocentes. Acabou perguntando, em tom bastante curioso:
_Então, teve muitas mulheres em seus braços?
_Sim, muitas.
Estavam quase alcançando os cavalos, quando a jo¬vem que os tinha servido na hospedaria veio correndo, porta afora, chamando-os:
_Desculpem, senhores.
Ambos voltaram-se para ela, e Gervase perguntou:
_O que foi, menina?
Sem despregar o olhar de Nicholas outra vez, a jovem ficou esfregando os pés no chão, demostrando, de modo claro, o embaraço pelo que precisava dizer.
_O patrão disse que precisam pagar pela cerveja derramada, meus senhores. Jamais pediria isso, mas estou cumprindo ordens.
Gervase olhou em direção da hospedaria que mal haviam deixado e, em seguida, encarou Nicholas, perguntando:
_Conhece o proprietário, Nick?
Nicholas balançou a cabeça em negativa, de modo lento, como se tentasse clarear as idéias.
_Já se passaram quase quatro anos. Não me re¬cordo. Quem é seu patrão, minha querida? - Voltou-se para a jovem de modo interrogativo.
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