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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

TRILOGIA CAVALEIRO DE BRONZE



O Grande Amor da minha vida


Capítulo Um


A manhã entrou pela janela, enchendo o quarto de luz. Tatiana Metanova dormia o sono dos inocentes, o sono da alegria agitada, das noites quentes e brancas de Leninegrado, do junho jasmim. Inebriada pela vida, dormia sobretudo o sono exuberante da juventude intrépida.
Não dormiu muito mais.
Quando os raios de sol atravessaram o quarto e pousaram aos pés da sua cama, cobriu a cabeça com o lençol, tentando esconder-se da luz do dia. A porta abriu-se e ouviu o chão ranger uma vez. Era sua irmã, Dasha.
Daria, Dasha, Dashenka, Dashka.
Representava tudo o que Tatiana amava.
Naquele momento, porém, a única coisa de que tinha vontade era de se a esganar. Dasha tentava acordá-la e, infelizmente, estava a conseguir. As suas mãos vigorosas abanavam-na enquanto a voz, normalmente harmoniosa, parecia esganiçada:
- Psst! Tania! Acorda. Acorda!
Tatiana gemeu. Dasha puxou-lhe o lençol.
A diferença de sete anos que tinham uma da outra era mais evidente agora, quando Tatiana queria dormir e Dasha estava a...
- Para! – resmungou Tatiana, procurando desesperadamente o lençol atrás de si e tapando-se de novo. – Não vês que estou a dormir? Pensas que és minha mãe?
A porta abriu-se outra vez. Dois rangidos no soalho. Era mesmo a mãe.
- Tania, queres acordar? Levana-te imediatamente.
Não podia dizer que a voz da mãe fosse harmoniosa. Irina Metanova não tinha nada de suave. Era baixa, barulhenta e cheia de uma energia indignada e transbordante. Trazia um lenço atado à cabeça, porque provavelmente já andara de joelhos a lavar o chão da casa de banho comum com o seu vestido azul de verão. Parecia descomposta e com o domingo estragado.
- O que foi, mãezinha? – perguntou Tatiana, sem levantar da almofada.
O cabelo da Dasha tocou-lhe nas costas. Tinha a mão na sua perna e inclinou-se como se fosse beijá-la. Tatiana sentiu uma ternura momentânea, mas antes de Dasha poder dizer fosse o que fosse, a voz ríspida da mãe fez-se ouvir de novo: - Levante-se depressa. Vão fazer um comunicado importante na rádio daqui a uns minutos.
- Onde estiveste ontem à noite? – segredou Tatiana a Dasha. – Já era de madrugada quando chegaste.
- E eu tenho culpa de que ontem a madrugada tenha sido à meia-noite? – murmurou Dasha com prazer. – Cheguei à meia-noite, uma hora perfeitamente respeitável. – Fazendo um sorriso aberto: - Dormias como uma pedra.
                                                   

Tatiana e Alexander
 (anos 30)
Capítulo Um

Boston, Dezembro de 1930.
De pé em frente ao espelho, Alexander Barrington ajustava o lenço dos escoteiros. Melhor dizendo, tentava ajeitar, mas não conseguia desviar os olhos de seu rosto incrivelmente sério. Com a boca curvada em uma careta de tristeza, suas mãos forçavam o lenço branco e cinza, incapaz, precisamente nesse dia de cumprir bem a tarefa. Alexander se afastou uns passos, contemplou a pequena habitação e suspirou. Não havia muito que ver: um chão de madeira, um papel amassado pintado com imagens de galhos, uma cama e uma mesa de cabeceira.
A Alexander não importava porque aquele era só um quarto alugado e todos os móveis pertenciam a dona da casa, que vivia no andar de baixo. A verdadeira casa de Alexander não era em Boston e sim em Barrington; e nela se sentia muito confortável, mas em nenhum outro lugar havia sentido o mesmo. E havia morado em seis casas diferentes nos últimos dois anos, desde que seu pai havia vendido a mansão familiar e decidido sair de Barrington, afastando Alexander de sua terra natal e de sua infância.
Agora estava a ponto de deixar também aquela casa, mas a Alexander não importava, ou melhor, não era o que importava. Alexander se virou outra vez para o espelho e não gostou da expressão de tristeza do menino que lhe devolvia o olhar. Apoiou a testa no cristal e deu um profundo suspiro. − E agora? − se perguntou em um sussurro. Teddy, seu melhor amigo, pensava que ir viver em outro país era a aventura mais emocionante do mundo. Alexander não poderia estar em mais desacordo.
Ouviu seus pais gritarem através da porta entre aberta; não fez caso, já estava acostumado a ouvi-los discutindo em momentos de tensão. Depois de um tempo a porta se abriu aos poucos e Harold Barrington, o pai de Alexander, entrou no quarto.
−Está pronto filho? O carro está nos esperando embaixo. E teus amigos vieram dizer adeus. Teddy me perguntou se não queria levar ele em vez de você−. Harold sorriu − disse a ele que talvez. O que você acha Alexander? Quer trocar com ele e ir viver com a louca da sua mãe ou o louco de seu pai?
− Como o senhor é tão certo, deveria ser uma troca interessante− falou Alexander, dando um olhar a seu pai.
Harold era um homem magro e de estatura mediana. Sua característica única era o queixo distinto que se destacava na sua cara ampla e quadrada. Aos seus quarenta e oito anos, em seus densos cabelos castanhos começavam a aparecer os fios brancos e seus olhos azuis conservavam a intensidade do olhar. Alexander gostava de vê-lo de bom humor porque seus olhos perdiam o ar de severidade.
Jane Barrington, a mãe de Alexander, afastou Harold e entrou no quarto, vestida com seu melhor traje de seda e seu chapeuzinho branco.
− Harold, deixa o menino em paz − ordenou. −Não está vendo que ele está se arrumando? O carro pode esperar. E Teddy e Belinda também−. Jane ajustou os cabelos lisos e escuros sob o chapeuzinho. Em sua voz restavam traços de um melodioso sotaque italiano que não havia desaparecido em todo tempo que morava nos Estados Unidos, onde morava desde os 17 anos.
−Belinda nunca me agradou, você sabe− acrescentou, baixando o tom.
−Eu sei mãe. Por isso estamos indo a outro país, não? −Comentou Alexander. Sem virar-se contemplou seus pais pelo espelho. Fisicamente se parecia com sua mãe.



O Jardim de Verão


Trilogia O Cavaleiro de Bronze



Milagrosamente reunidos na América com seu filho Anthony, Tatiana e Alexander enfrentam uma nova vida no que promete ser uma terra de liberdade e oportunidade.

No entanto, o peso da guerra e os anos de separação, e a pressão de um ambiente muitas vezes hostil aos recém-chegados, testarão um amor que até agora tem provado ser inquebrável.

Capítulo Um

A carapaça
Carapaça é uma caixa dura ou casca espessa feita de osso ou quitina, que cobre uma parte do corpo de um animal tal como uma lagosta. Há muito, muito tempo, em Stonington, Maine, ao entardecer, no final de uma guerra quente e início de uma fria, uma jovem vestida de branco, aparentemente calma, mas com as mãos trêmulas, sentou-se num banco junto ao porto, tomando sorvete. Ao seu lado estava um menino, também tomando sorvete, de chocolate. Eles estavam conversando casualmente, o sorvete estava derretendo mais rápido do que a mãe podia comer.
O menino estava ouvindo enquanto ela cantava "Shine Shine My Star" para ele, uma canção russa, tentando ensinar-lhe as palavras, e ele, brincando com ela, distorcendo os versos. Eles estavam vendo os barcos de lagosta voltando.
Ela normalmente ouvia a disputa das gaivotas antes que ela visse os próprios barcos. Havia uma pequena brisa de verão e seu cabelo moveu-se ligeiramente sobre o rosto dela. Tufos que tinham saído de sua longa trança grossa, caída por cima do ombro. Ela era loira e magra, de pele clara quase transparente, olhos translúcidos, sardenta.
O menino bronzeado tinha cabelo preto e olhos escuros e pernas grandes para uma criança. Eles pareciam estar sentados sem um propósito, mas era uma falsa tranquilidade. A mulher estava olhando os barcos no horizonte azul de forma obstinada. Ela olhava para o menino, para o sorvete, mas ela observava a baía como se ela estivesse incomodada com isso.
Tatiana queria beber de si mesma no tempo presente, porque ela queria acreditar que não existiu o ontem, que é apenas um momento aqui na Ilha dos cervos num longo declive pendendo ilhas ao largo da costa central do Maine, ligado ao continente por uma balsa ou uma ponte suspensa de mil pés, sobre a qual eles vieram em seu trailer de acampamento, o seu Schult Nomad Deluxe usado.
Eles atravessaram a Baía Penobscot, sobre o Atlântico e ao sul, até o fim do mundo, em Stonington, uma pequena cidade branca aninhada na enseada das colinas de carvalho ao pé da ilha dos Cervos. Tatiana - tentando desesperadamente viver apenas no 7 presente - pensa que não há nada mais bonito ou pacífico do que essas casas de madeira brancas construídas nas encostas, em estradas de terra estreitas com vista para a imensidão da baía, para água ondulante que ela observa no dia a dia.
Essa é a paz. Esse é o presente. Quase como se não houvesse mais nada. Mas de vez em quando, num piscar de olhos, no entanto, enquanto as gaivotas voam e gritam, algo se intromete, mesmo na ilha dos cervos.
Naquela tarde, depois de Tatiana e Anthony deixarem a casa onde estavam hospedados para vir para a baía, ouviram vozes ao lado. Duas mulheres viviam ali, mãe e filha. Uma tinha quarenta anos, a outra vinte. "Elas estão brigando de novo", disse Anthony. "Você e o papai não brigam." Briga!



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