DESVENDANDO SEGREDOS

Estados Unidos, 1888
Dirk Ballinger está acostumado a consertar as confusões criadas pelo seu meio-irmão mau caráter. Sendo assim, sabe que é sua obrigação casar com uma mulher que Ray seduziu e engravidou. Estão em jogo a honra da família e o destino de uma criança com o sangue dos Ballinger. Só que a noiva de Dirk está longe de ser a inglesa murcha e sem graça que ele imaginara...


Capítulo I

Londres, 1888

Era lamentável que a Scotland Yard não aprovasse a prática de estrangulamento de patrões. Molly Riordan havia perdido a conta do número de vezes que lutara contra esse impulso, durante os onze anos em que servira lady Elizabeth Summersby. Estava furiosa naquele momento...
Lady Elizabeth levou a mão à testa em um gesto dramático e fechou os olhos.
— Estou arruinada! Como uma coisa dessas pôde acontecer comigo?
Molly deu um aperto a mais no espartilho da patroa, cuja cintura se alargava rapidamente e censurou em silêncio a descrição detalhada que lady Elizabeth insistia em fazer da sua relação carnal.
— O que está feito, está feito, milady — disse ela baixinho. — Logo a senhorita estará casada. — Afinal de contas, o comportamento de lady Elizabeth havia sido, no mínimo, imprudente.
— Nem me lembre — disse Elizabeth, estremecendo. — Bem, pelo menos ele é rico. — Ela se afastou assim que Molly acabou de amarrar o espartilho e se virou de perfil para se olhar no espelho.
— Eu nunca imaginei que a primeira vez pudesse... fosse...
— Ah, às vezes, uma vez é o bastante. — Molly suspirou, dramática. — Milady sabe da moça nova que a cozinheira contratou, não sabe?
Lady Elizabeth ergueu a sobrancelha bem desenhada e olhou curiosa para Molly.
— Você está sugerindo que sou tão... comum quanto ela?
“Não. A jovem Annie pode ser tola, mas pelo menos tem um coração”, pensou Molly, mordendo o lábio. Não podia se arriscar a fazer tal comentário, por mais que se sentisse tentada.
— Não, milady — disse, forçando uma expressão solene. — A jovem Annie diz que o rapaz nem chegou a penetrá-la completamente e veja o que aconteceu.
— Basta! — Elizabeth virou-se para Molly, horrorizada. Em seguida, voltou a atenção para seu reflexo pálido no espelho, estudou novamente o próprio perfil e tocou o ventre, pensativa.
Engolindo um sorriso, Molly recolocou o pente e a escova de prata na penteadeira e aproximou-se. O que lady Elizabeth esperava? Ela se entregara facilmente no coche do sujeito durante a festa. Molly ficara por perto por força do dever, para o caso de a patroa precisar de algo. E, como prêmio por sua dedicação, fora brindada com todos os ruídos produzidos pelo casal no coche. Jamais esqueceria a forma como lady Elizabeth rira e o estimulara, enquanto o americano grandalhão se aproveitava dela.
— É muito grande! — exclamara lady Elizabeth.
— É mesmo grande, querida. Mas você vai adorar — dissera o americano, enquanto Molly continuava atrás do coche, abafando o choque e o riso.
Naquele momento, Molly precisou controlar a vontade de rir. Por mais que o jeito imperativo da patroa a incomodasse, bastava se lembrar daquela noite, para concluir que havia justiça no mundo. Se Molly houvesse detectado qualquer indício de que o americano tentara forçar lady Elizabeth, sua reação teria sido totalmente diferente.
Por mais que tentasse ser justa e fiel as suas origens, Molly não conseguia sentir pena de lady Elizabeth. Até sua avó lhe daria razão. Ah, sentia tanta falta dela. Se a velha senhora houvesse vivido um pouco mais, Molly teria conseguido completar os estudos e àquela altura seria uma governanta e não a criada de uma dama. Sua criação, seu treinamento, sua fala correta e suas preferências revelavam sua boa educação mas, mais uma vez, o destino se impusera.
A voz de lady Elizabeth tirou-a dos devaneios.
— Ele não teve nem a decência de se casar comigo aqui.
— A distância é grande, mas ele mandou dinheiro suficiente para uma passagem de primeira classe, milady. — Molly estremeceu. O americano não fazia idéia do tipo de mulher que teria que agüentar, por causa de uma aventura de uma noite.