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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

QUANDO É PRECISO MENTIR

Inglaterra, 1840
Perigosa ilusão
Embora idênticos na aparência, os gêmeos Trelane e Eric Crayson são diferentes em muitos aspectos. Trelane é um homem sério, reservado e comedido. Enquanto seu irmão, Eric, é dinâmico e impetuoso, disposto a defender as mais nobres causas, a qualquer custo. Ainda que os dois vivam em conflito, um atentado contra a vida de Trelane faz com que Eric se determine a descobrir os malfeitores. Para tanto, ele se faz passar por Trelane. E acaba se apaixonando por Belle Kingsley, a encantadora noiva de seu irmão. A segurança de Belle também está ameaçada, e para protegê-la, Eric se envolve numa trama perigosa, onde o maior risco, será revelar a Belle toda a verdade sobre sua identidade e perdê-la para sempre.
Sobre a autora:
Susan Grace é professora de redação, diretora de eventos da Romantic Times e roteirista de comédias e sátiras teatrais, nas quais ela explora de maneira divertida e realista o ponto de vista de escritores, agentes literários e editores.


QUANDO É PRECISO MENTIR
Susan Grace

Prólogo
Londres, 1° de fevereiro de 1840.
— Droga! — ele deixou escapar baixinho. Se não tomasse cuidado, podia quebrar o pescoço escalando aquele muro na escuridão, pensou, pondo-se em pé sobre a base estreita de pedra. Devia ter arrumado um jeito melhor de entrar na festa sem que ninguém notasse.
Os gravetos estalaram sob seus pés quando saltou para o chão. Ele se voltou para olhar a casa, então, vendo-a brilhar à luz da lua. O Solar dos Grayson era a residência oficial do conde de Foxwood havia cinco gerações. A suntuosa mansão possuía quatro andares e todos os aparatos apreciados pela nobreza: obras de arte, antiguidades raríssimas, tapetes persas e cortinas de brocado de seda em todos os cômodos.
Mas não era hora de ficar pensando naquilo, admoestou a si mesmo ao sentir um arrepio com o vento gelado. Precisava entrar. Um bom cálice de conhaque e uma lareira eram do que precisava, concluiu, e contornou uma cerca viva em direção às portas da biblioteca.
Ficou satisfeito ao encontrar o lugar amplo e repleto de livros totalmente deserto. Por sorte, os convidados ainda não haviam descoberto aquele oásis. As portas envidraçadas encontravam-se trancadas, porém não poderiam detê-lo. Com um sorriso nos lábios, removeu o alfinete da gravata e executou com destreza uma manobra a que já se acostumara em sua profissão. O clique da fechadura se abrindo soava como música em seus ouvidos.
— Ruby, minha querida — beijou a pedra do alfinete. — Que bom que nunca me decepciona.
O ar mais ameno da biblioteca o envolveu enquanto caminhava direto para a bandeja de licores, sobre um aparador. Encheu um cálice e engoliu a bebida de uma só vez. Em questão de segundos, já se sentia aquecido por dentro e por fora. Atirou a sobrecasaca numa cadeira e caminhou pelo cômodo.
— Aí está você... Atrasado como sempre, Trelane Grayson. Perdeu o relógio de bolso ou se esqueceu do baile desta noite?
Não havia censura na voz feminina e delicada; apenas uma ponta de humor. Sem responder, ele pousou a estatueta de jade que havia apanhado e virou-se para encarar a dona da voz.
Apesar da beleza angelical, não havia como ignorar o calor dos olhos castanhos. Graciosa, ela se aproximou dele. Usava um vestido azul-claro de cetim, os cabelos longos e cacheados caindo em cascata sobre um dos ombros.
— Não só está atrasado, como também ainda não se vestiu como devia!
Ele disfarçou um sorriso e fingiu-se chocado.
— Não gostou do meu novo traje? Eu o peguei hoje à tarde no alfaiate da Bond Street. O homem jurou que era a última palavra em moda masculina.
Pequenos guizos de bronze tilintaram no bracelete que ela usava, quando alisou a lapela de sua jaqueta azul.
— Claro que gostei, Trelane. Está lindo. Mas não para uma ocasião formal. Não vá me dizer que não trouxe o traje da festa...
Ele ignorou a última parte do comentário.
— Acha mesmo que estou bonito?
— Já disse que sim. Por que está tão surpreso?
— Não sei. Mesmo os homens gostam de um elogio de vez em quando.
Ela sorriu.
— Então, preciso elogiá-lo mais vezes. Não posso permitir que o homem mais eficiente do Parlamento se sinta negligenciado.
— Também me perdoa por eu ter me atrasado?
— Por que não? — Ela soltou um gritinho, espantada, quando ele a enlaçou pela cintura. — Decididamente, está esquisito hoje, Trelane! — Riu e lançou um olhar preocupado na direção do corredor. — E se alguém aparecer?
Ele estreitou os olhos para fitar o rosto corado e sorriu de volta.
— No momento, não estou exatamente preocupado com isso...
Roçou os lábios nos dela, gentil. Ela ficou tensa por um segundo, mas bastou ele beijá-la de novo para que se entregasse à carícia sem reservas. Não era muito alta, porém moldava-se a seu corpo como uma luva.
Estavam prestes a aprofundar o beijo quando uma voz conhecida veio da porta.
— Boa noite!
— Mamãe! — Ele soltou a moça de pronto.
Belle tentou se afastar, porém a pulseira de bronze enganchou em um dos botões do colete que ele usava sob a jaqueta. Corando de vergonha, ela se desvencilhou e se curvou em uma mesura.
— Desculpe-me tê-la obrigado a me procurar, milady. Trelane e eu estávamos...
— Não precisa me dar explicações, minha querida. — Catherine Grayson, a condessa de Foxwood, entrou na biblioteca e passou um braço pelos ombros da moça. — Sei muito bem como um homem pode se portar na presença de uma moça como você.
— Não foi culpa dele — replicou Belle. — Eu brincava com Trelane pelo fato de estar atrasado e... e ele me surpreendeu com um beijo. Foi isso. Catherine balançou a cabeça.

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