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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

TEMPO DE VIVER

Resumo:
Ela era livre, independente e cativante!
Oregon, America do Norte, 1886
Érika Scharf obedecia sempre ao coração. E ele a tinha levado à América, ao encontro de um homem desiludido e de uma pequena orfã. Mas será que o viúvo Jonathan Callender jamais venceria essa imensa tristeza?
Para Jonathan Callender, nada mais importava na vida após a morte da jovem esposa. Até o dia em que uma ventania alemã, encarnada na determinada Érika Scharf, invadiu-lhe a vida e levou seu coração a bater descompassado novamente.

Tempo de Viver
Lynna Banning

Nota da autora:
Um mito popular afirma que as mulheres do oeste, especialmente as das cidades, eram, no passado, criaturas delicadas que se escondiam cuidando da casa e criando filhos. Mulheres de todas as idades e posições sociais constituíam os elementos mais estabilizadores e educativos da sociedade americana do século XIX. Elas contribuíam com tempo, capacidade de organização e criatividade para projetos de importância educacional, cultural, social e política.
Espartilhos apertados, anquinhas, anáguas engomadas e plumas nos chapéus não impediam nossas intrépidas avós e bisavós de arregaçar as mangas a fim de incrementar a vida de qualquer parte do oeste em que se encontravam. A tais mulheres, temos um débito imenso de gratidão pelo legado de visão e coragem.

CAPÍTULO I
Plum Creek, Oregon, 1886
O calor escaldante de julho subia da cal¬çada quando Érika chegou à esquina da rua sombreada por árvores. Aliviada, mudou a sacola pesada para a outra mão. Tinha vindo a pé desde a parada da diligência até ali e a gola alta, do vestido amarrotado durante a viagem, grudava-lhe no pescoço. A transpiração corria entre os seios e os pés, aprisionados nas botinhas abotoadas, assavam como duas formas gêmeas de brot. Pão, corrigiu-se mentalmente. As palavras da língua in¬glesa eram tão difíceis para se decorar.
Virou a esquina e andou apenas uns poucos passos. A casa, de dois andares, ocupava a esquina inteira do outro lado da rua. Uma cerca de madeira, pintada de branco, rodeava o gramado bem cuidado e um letreiro, de ferro batido, balançava, pendurado no terraço.
“Jona¬than Callender – Médico”.
Uma casa tão grande!
Três ameixeiras frondosas sombreavam a construção cinza e preta, em estilo vitoriano, protegendo-a contra o sol forte. Érika atravessou a rua, passou pelo portão e seguiu pelo caminho de cascalho, ladeado por fileiras de zínias vermelhas, até o terraço. Depois de pôr a sacola no chão, bateu a aldrava da porta. Esperou um bom tempo e resolveu batê-la outra vez. Alguém devia estar em casa. Uma charrete empoeirada encontrava-se parada, na rua, diante dela.
Mais uns dois minutos se passaram e Érika, frustrada, começou a bater o pé no chão.
De repente, a porta escancarou-se e um homem, de cabelos pretos, a encarou. As mangas da camisa branca enrolavam-se até os cotovelos e o colarinho estava desabotoado.
- Pois não?
A voz bem modulada, mas com um leve tom de impa¬ciência, a sobressaltou.
- Sou Érika Scharf.
- Sim. Pois não? - ele repetiu.
Os olhos cinzentos a fitaram num misto de descon¬fiança e desinteresse.
- Nome significa nada?
Ela estremeceu ao perceber o erro de linguagem. Tinha de se esforçar mais para aprender inglês e falar corretamente. Mas os pensamentos vinham muito depressa e antes que ela pudesse formular as palavras certas. Além do mais, continuava a pensar em alemão. Um erro.
- Não, de jeito nenhum. E por que deveria?
- Senhor recebeu minha carta? Sua mulher, sra.... - Tirou um papel da bolsa e leu em voz alta: - Benbow.
- Sra. Benbow. Minha governanta.
- Ela escreve... Ai! Sua governanta? Não sua mulher?
- Correto, srta. Scharf. Pode me dizer agora por que seu nome deveria significar alguma coisa para mim?
O olhar severo do homem a fez sentir frio e calor ao mesmo tempo.
- Ah, sim, meu nome. Meu pai, alemão. Mamãe é... era dinamarquesa. Quando eu venho Nova York, nome não Scharf, mas Scharffenberger. Comprido demais para escrever. Então, eles fazem mais curto. Scharf. É mais americano, ja?
- Ja, não. Sim - Jonathan corrigiu depressa.
- Senhor não lembra nome?
- Não, sinto muito.
O que essa mocinha queria com ele? Consultá-lo, talvez.
- Está doente, srta. Scharf?
Duas covinhas apareceram em suas faces bronzeadas de sol.
-Nein. Nunca doente. Muita saúde. Vou trabalhar agora?
- Trabalhar?! - ele repetiu perplexo.
- Ja, trabalhar. Sua mulher não conta para o senhor?

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