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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

AMOR DIVINO

Anne O’Brien
Amor Divino
Nota da Revisora Maria Emilia:
Livro bom. Gostei. A autora manteve os personagens com características mais próximas da época, o que não é muito comum. Fora isso não tem muita embromação e as emoções acontecem no tempo certo. E tem um pouco de aventura e mistério também.

Nota de leitura final deia:
Gostei do livro, tem romance, tem suspense.Adorei ‘Malinder, O Negro’, como nosso mocinho é conhecido..rsrsrsrsrs...Tem uma prima dele, meio atirada, que cria algumas situações irritantes para a mocinha,mas como sempre, os homens não percebem a rivalidade entre as mulheres..rsrsrsrs...Gostei!








Argumento:
Nas fantasmagóricas profundezas do priorado de Llanwardine, Elizabeth de Lacy está a ponto de se tornar uma freira quando lhe dizem que tem que se casar com o inimigo ferrenho de sua família.

Lorde Richard Malinder deve providenciar um herdeiro, e sua união com a família de Lacy pode ser proveitosa… mesmo que fosse apenas para manter por perto seus inimigos…

Elizabeth não tinha esperado sentir uma atração tão intensa, nem encontrar um Richard tão gentil, compreensivo e incrivelmente charmoso. Seus braços pareciam fortes sob suas mãos e o desejo e a antecipação aumentavam enquanto se dirigiam diretamente ao leito conjugal…


 Um

  Welsh Marche*, 1460

  No priorado de Llanwardine, em Welsh Marche, na área fronteiriça entre a Inglaterra e Gales, a pequena sala tinha paredes e chão de pedra e um telhado ondulado. Uma umidade fria impregnava tudo, proporcionando um brilho desagradável à luz da única lamparina. Dava a impressão de que o cômodo estava em desuso fazia muito tempo, exceto naquela noite escura em que duas mulheres e uma gata não podiam deixar de tremer de frio e de medo. A porta estava garantida por dentro com uma tranca, as venezianas fechadas para evitar olhares curiosos.

  As mulheres estavam sentadas uma de frente à outra e entre elas havia um áspero tampo de madeira apoiado sobre dois cavaletes, no qual em um dos cantos a gata estava deitada com uma bola. As duas figuras estavam cobertas por capas escuras. Uma delas, a de mais idade, era Jane Bringsty, uma mulher gorda, de rosto redondo e vestida com as roupas de uma criada. A outra era Elizabeth de Lacy, filha de umas das principais famílias aristocráticas do Distrito. Pálida e magra era ainda jovem, e ia vestida completamente de negro e levava a touca branca e negra das freiras. Em silêncio, tirou de um saco de lona quatro velas de sebo, que dispôs formando um quadro diante de sua criada. Jane colocou um prato de barro no centro, encheu-o de água e levantou o olhar.
  —Tem certeza milady?
  —Tenho — ela respondeu apesar de seus dentes baterem de frio.
  —Se for assim…
  Jane olhou à gata, que deu imediatamente à volta para lavar as patas e as orelhas com estudada indiferença. Com um suspiro de resignação, a mulher remexeu em um bolso e tirou alguns pacotinhos antes de acender as velas, das quais começou a sair uma fumaça acre e densa, quase em tanta quantidade quanto da luz.
  —A arte da adivinhação é perigosa — ela disse, mudando de postura sobre o tamborete—. E se nos seguiram? E se nos descobrem aqui?
  —Não nos seguiram, e este hospital está vazio — respondeu, apoiando as mãos na mesa com as palmas para baixo e os dedos separados. Nenhum anel adornava aquelas mãos de nódulos inflamados e pele avermelhada. Apertava os lábios e sua boca ficava reduzida a uma linha fina.
  —Mesmo assim — respondeu, olhando-a com atenção. Tinha um rosto encovado e sombras tão escuras como hematomas sob os olhos. A moldura que lhe proporcionava a touca não servia para realçá-la, mas ao contrário: as chamas trêmulas e indecisas distinguiam mais seus defeitos.
  Elizabeth franziu o cenho, irritada.
  —Faça-o logo, Jane. Você é muito melhor adivinha que eu.
  —Tenho mais prática, isso é tudo.
  De um dos pacotes tirou um punhado de folhas de Artemisa e se dispôs a ler o futuro de sua ama.
  Primeiro espremeu na mão algumas folhas e as colocou nas chamas para que desprendessem seu aroma penetrante. Com os olhos fechados inspirou profundamente e a seguir jogou o resto na água.
  —Venha para mim pelos Poderes da Palavra — ela entoou apenas em um sussurro, enquanto com o dedo indicador da mão esquerda desenhava patrões aleatórios no centro do recipiente, e seguiu assim enquanto inspirava profundamente seis vezes. A seguir se deteve para contemplar e interpretar o desenho que tinham feito às folhas.
—O que vê?
  —Cale-se e espere.
  Elizabeth entrelaçou as mãos para ficar quieta.
  —E então?
  Não podia esperar mais.
  —Tudo está turvo, milady. Nuvens. Um derramamento de sangue — Jane elevou o olhar—. Morte.
  —A minha?
  —Não. Para você… uma viagem, provavelmente. Um castelo escuro, mas não sei se o que a aguarda nele seja uma boas-vindas ou um rechaço, um amigo ou um inimigo. Não posso dizê-lo.
  —Graças a Deus! —exclamou. Uma viagem.
  —Cale-se, milady. Não é apropriado o nomear aqui.
  Elizabeth assentiu, mas seguiu perguntando sem deixar de ela mesma olhar para a tigela de barro como se pudesse entender suas imagens.
  —Quando será essa viagem? Logo? Ou me ficarei velha irremediavelmente antes de partir? Estarei…
  Elizabeth de Lacy ficou em silêncio imediatamente, com o olhar cravado no que via. Na superfície das águas removidas apareceu um rosto coroado por um cabelo escuro que parecia alvoroçado pelo vento. Olhos cinza, de olhar intenso e tormentoso, pareciam olhá-la com determinação desde aquele rosto extraordinariamente belo. O nariz era reto, as maçãs do rosto marcadas, o queixo firme. Sem dúvida era bonito. E enquanto se admirava por sua simetria e perfeição teve a sensação de cair presa por seu olhar, de que aquele ser se colocava sob a sua pele e grudava em seus ossos. Sentiu um nó formar-se no peito. Era aquilo uma possessão? Respirou fundo e se deu conta de que estava contendo a respiração. Seria obra do maligno? Seria boa ou má aquela conexão com um desconhecido? Uma estranha consciência sensibilizou sua pele e um fino véu de suor molhou a parte de acima de seu lábio superior apesar da umidade e do frio na sala. Ela levou uma mão aos lábios enquanto os olhos do desconhecido a olhavam severos. Não podia imaginar aqueles lábios curvando-se em um cálido sorriso. Não havia cordialidade neles; apenas um duro e frio cinismo.
  —Quem é? —perguntou em voz baixa—. Parece um homem capaz de alterar o sonho.

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